
as minhas mãos já não voam.
pelo toque das tuas perderam-se inertes
mexem-se por dentro dos gestos exteriores
isoladas pelas escamas da loucura
bichos secos pelo ardor do vento
andam à roda do teu corpo invisíveis e áridas.
são pincéis manchados de vermelho cativo
indícios sangrentos sem culpa formada
ficam-se pelos agravos de um tempo grave.
as minhas mãos foram julgadas à revelia
pelo crime sedoso de te buscar.
por tanto te amar foram condenadas à tempestade
e nada sobrevive ao anel da saudade.
nem as tuas mãos. magras. competentes.
Isabel Mendes Ferreira, in "A pele", Presença, 1989